Nasci numa colônia ao redor de uma cerâmica.
As casas e as pessoas eram muito próximas
quase todos familiares numa vida comunitária
mas eu, em meio a tanta gente,
já me descobri só.
Cresci numa família de doze pessoas.
Alegres, unidas, participantes
a casa sempre cheia
todos com suas histórias e seus problemas
mas eu, alheio e calado, me sentia só.
Vivi numa cidade de interior.
cheia de vida, festiva;
as pessoas sempre em grupos
bailes, comemorações, encontros
e eu, assisti a tudo, sempre só.
Freqüentei várias escolas
animadas, repletas de jovens da minha idade;
Os alunos sempre felizes
turminhas, amigos, namorados
mas eu, no fundo da classe, sempre só.
Pratiquei, por muito tempo, esportes coletivos.
Treinamentos, concentrações, viagens
várias equipes, muitos grupos
mas as alegrias das vitórias e as amarguras das
derrotas
eu as senti sempre só.
Amadureci trabalhando em grandes empresas;
movimentadas, ágeis, com muita gente
muitos contatos, um sem número de reuniões
chefes, colegas, subordinados
mas eu, no meu canto, me mantive sempre só.
Acostumei e acho que gosto de ser só
porém, hoje, quase que totalmente realizado
ultrapassada a casa dos quarenta anos,
as pessoas mais próximas que deveriam me conhecer
não respeitam e ainda criticam minha opção pelo só.
S.B.Campo, 03.04.86.